Relatório aponta: falta de diagnóstico precoce reduz em 30% expectativa de vida de pessoas com diabetes tipo 1
- Maria Claudia B.
- 29 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
No mundo, cerca de 35 mil crianças e adolescentes que morreram em 2022 devido a complicações do DM1 ainda não tinham sido diagnosticadas com a doença

O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 e a falta do diagnóstico precoce reduz em 30% a expectativa de vida de uma criança diagnosticada aos 10 anos de idade, se comparada com a população geral (expectativa de vida de 40 a 54 anos, em média). Isso é o que aponta o relatório da T1D Index, divulgado pela Federação Internacional do Diabetes (IDF).
A pesquisa aponta ainda que no ano de 2022, cerca de 35 mil crianças e adolescentes morreram no mundo por causa do diabetes, das quais nenhuma havia sido diagnosticada com a doença. E os números não se restringem apenas às crianças. No Brasil, 1 em cada 9 pessoas com DM1 morre sem um diagnóstico.
O médico endocrinologista, presidente da SBD-PR e coordenador do departamento de educação da SBD nacional, André Vianna, explica que o diabetes tipo 1 apresenta sinais pontuais inicialmente, como vontade frequente de urinar, sede excessiva e aumento da fome e apetite.
“O problema maior é quando o DM1 não é diagnosticado nessa fase e acaba evoluindo para a cetoacidose diabética, que pode ser diagnosticado erroneamente como pneumonia, gastroenterite, malária, febre, apendicite ou outra condição”, afirma Vianna.
Cetoacidose diabética e a carência de insulina
Essa complicação do diabetes é considerada como uma grave emergência médica. Sem um diagnóstico rápido e tratamento adequado, a pessoa com diabetes pode morrer dentro de 12 meses. A cetoacidose diabética é uma complicação do diabetes tipo 1 e, em casos raros, do diabetes tipo 2, sendo provocada pela falta de insulina no organismo que leva a produção de cetonas, substâncias ácidas que desequilibram o Ph do sangue.
Isso aconteceu com Ana Custódio da Silva aos 11 anos de idade. A mãe, Eva Custódio da Silva, conta que a filha apresentava sinais de fraqueza e tontura, até que em uma noite Ana a acordou gritando por não conseguir ficar em pé. “Eu acordei com o grito desesperado dela e me assustei muito quando a vi no quarto, toda roxa e com a boca sangrando. Foi o tempo de colocar ela no carro e correr para o hospital. Chegando lá, o médico do plantão era um endocrinologista e a primeira coisa que ele fez foi um destro. Logo já me passou o diagnóstico: a Ana tinha diabetes tipo 1 e estava tendo uma cetoacidose diabética, e por isso eles iriam levar ela imediatamente para a UTI”, conta Eva. “Eu me emociono porque é uma fase que a gente já passou, então é um choro de superação. Mas foram dias muito difíceis para nós, um momento que nunca imaginávamos viver. A Ana ficou 5 dias entubada, depois foi para a enfermaria e aí chegou a parte mais difícil: a hora de cair a ficha, entender o que era o diabetes tipo 1 e nos adaptar a uma vida de controle e tratamento”, diz Eva.
Diagnóstico precoce e tecnologias no tratamento
Para André Vianna, o diagnóstico precoce do diabetes tipo 1 e o tratamento adequado são essenciais para aumentar a expectativa de vida. “A informação é o principal e melhor tratamento para qualquer doença, em especial para o diabetes. Quanto mais pessoas receberem informações confiáveis e de qualidade sobre o diabetes e seus sintomas, mais diagnósticos precoces teremos. Além disso, o acesso a insulina e insumos como tiras para testes de glicemia são de suma importância para o controle da doença”, diz o médico endocrinologista.
Outro fator que tem contribuído com a longevidade das pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 1 é o uso de equipamentos tecnológicos para controle da glicemia. Esse é o caso dos medicamentos e sensores de glicemia e do pâncreas artificial híbrido (780g) que, ao serem usados no tratamento, podem restituir 6.9 anos de vida saudável para as pessoas com diabetes.
“A tecnologia em diabetes é um dos maiores avanços que temos para proporcionar mais qualidade de vida no dia a dia dessas pessoas, desde as crianças até os mais velhos. Uma pessoa com diabetes toma mais de 100 decisões por dia referente à doença, sob o risco e medo de esquecer um medicamento, ou uma dose ou outra de insulina. Com sistemas de infusão contínua, essas decisões são reduzidas quase que por completo, e a pessoa tem mais tempo e disposição para viver a vida sem se preocupar integralmente com o diabetes”, finaliza Vianna.
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