"Não existe medicamento para reduzir danos causados por anabolizantes", reforça hepatologista
Por Fernando Garcel
Os esteróides anabolizantes têm sido cada vez mais utilizados por pessoas que buscam ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo. No entanto, o uso dessas substâncias traz graves riscos para a saúde, especialmente para o fígado. O assunto foi discutido nesta semana pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) que vetou a prescrição para fins estéticos.
Segundo a médica hepatologista do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP), do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Dra. Daphne Morsoletto, os esteroides anabolizantes podem levar a esteatose hepática, colestase (dificuldade de drenagem da bile a nível celular), perda de funcionamento do fígado, inflamação e até câncer.
De acordo com a Dra. Daphne Morsoletto, a lesão hepática induzida pelo uso de esteroides anabolizantes, assim como outras doenças do fígado, pode ter uma apresentação silenciosa e traiçoeira, podendo surgir sintomas somente em casos graves e irreversíveis. "Sintomas como perda de apetite, icterícia, perda de massa muscular, dor abdominal e náuseas podem surgir em momentos menos reversíveis", afirma.
A especialista ressalta que a única medida preventiva que pode ser usada para prevenir lesões de fígado é não usar esteroides anabolizantes, visto que qualquer dose pode ser tóxica. "Vale ressaltar de forma enfática que não existem medicamentos hepatoprotetores que possuem qualquer evidência científica para reduzir danos hepáticos induzidos por estes produtos. A manipulação de alguns produtos fitoterápicos com este intuito faz parte do combo anticientífico prescrito por estes médicos", alerta a especialista.
Além dos riscos hepáticos, o uso de esteroides anabolizantes também pode afetar outras áreas do corpo, como o sistema cardiovascular, o sistema endócrino e o sistema musculoesquelético.
"O uso prolongado de esteroides anabolizantes pode levar a uma série de efeitos colaterais, como aumento da pressão arterial, aumento do colesterol ruim (LDL) e diminuição do colesterol bom (HDL), aumento do risco de doenças cardíacas, disfunção erétil, diminuição da produção de testosterona pelo organismo, ginecomastia (crescimento das mamas em homens), acne, queda de cabelo, entre outros", explica a Dra. Daphne.
Problemas em adolescentes
Em adolescentes pode afetar o desenvolvimento do sistema reprodutivo e causar alterações irreversíveis na estrutura óssea. Em mulheres, o uso das substâncias pode causar masculinização, como aumento de pelos, engrossamento da voz e diminuição do tamanho dos seios. Além disso, o uso de anabolizantes pode levar à dependência, tanto física quanto psicológica.
“A proibição pelo CFM da prescrição de anabolizantes para fins estéticos e de ganho de massa muscular foi um grande avanço no combate à medicina de má qualidade que expõem o indivíduo a riscos desnecessários. Tal decisão foi comemorada por inúmeras sociedades médicas, incluindo a Associação Paranaense de Hepatologia", explica a hepatologista do CIGHEP que integra a diretoria da associação, Dra. Cláudia Ivantes.
CFM proíbe prescrição médica de anabolizante para fins estéticos
A Lei 9.965 de 27/04/2000 já restringia a venda de esteroides e peptídeos anabolizantes, exigindo a prescrição médica. No entanto, nos últimos anos, houve um aumento de prescrições e estímulo ao uso dessas substâncias, especialmente com objetivos estéticos, o que tem levado a um descontrole no uso dessas substâncias, minimizando ou ocultando os possíveis riscos.
Diante dos riscos associados ao uso de esteroides anabolizantes, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu proibir a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, para ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo em resolução publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (11 de abril). Segundo a entidade, a decisão foi tomada em razão da inexistência de comprovação científica suficiente que sustente o benefício e a segurança do paciente.
De acordo com a resolução, estão vedados:
I - Utilização em pessoas de qualquer formulação de testosterona sem a devida comprovação diagnóstica de sua deficiência, excetuando-se situações regulamentadas por resolução específica;
II - Utilização de formulações de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com a finalidade estética;
III - Utilização de formulações de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com a finalidade de melhora do desempenho esportivo, seja para atletas amadores ou profissionais;
IV - A prescrição de hormônios divulgados como "bioidênticos", em formulação "nano" ou nomenclaturas de cunho comercial e sem a devida comprovação científica de superioridade clínica para a finalidade prevista nesta resolução.
V - A prescrição de Moduladores Seletivos do Receptor Androgênico (SARMS), para qualquer indicação, por serem produtos com a comercialização e divulgação suspensa no Brasil.
VI - Realização de cursos, eventos e publicidade com o objetivo de estimular e fazendo apologia a possíveis benefícios de terapias androgênicas com finalidades estéticas, de ganho de massa muscular (hipertrofia) ou de melhora de performance esportiva.
"Essa medida é muito importante para evitar que pessoas sejam expostas a riscos desnecessários. O uso de esteroides anabolizantes deve ser restrito a casos específicos, como no tratamento de algumas doenças hormonais, e sempre sob orientação médica", ressalta a Cláudia.
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