Excesso de peso atinge cerca de 70% da população paranaense no último ano
Por Fernando Garcel
Dados inéditos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), do Ministério da Saúde, revelam que 69% da população paranaense está com algum nível de excesso de peso no último ano. São 34,1% com sobrepeso, 21,6% com obesidade leve, 8,8% está com obesidade severa e cerca de 4,4% em obesidade mórbida, um quadro de alto risco para a saúde. Mais de 1,4 milhões de pessoas são monitoradas pelo sistema no Paraná.
Os dados estão sendo divulgados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) no dia - 04 de março - data alusiva e que marca a importância do combate à obesidade entre adultos e crianças.
O Paraná possui políticas públicas voltadas ao controle da obesidade e também lidera o ranking nacional entre os estados com maior número de cirurgias realizadas no país pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com 23.646 procedimentos realizados, entre 2017 e 2022. Já em 2022, foram 1.563 cirurgias bariátricas em 2022.
Além disso, o estado quase não possui fila para cirurgia bariátrica. Segundo a Central de Acesso a Regulação do Paraná (Care/PR) - sistema que gerencia a regulação do estado - atualmente 117 pessoas estão aptas e aguardando serem operadas pelo SUS em 11 cidades do estado, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde. Outras 594 iniciaram ou estão tramitando pelo processo de pré-operatório, obrigatório e essencial para a realização do procedimento.
Para que se tenha ideia, em Londrina 35 pacientes aguardam para realizar o procedimento; em Maringá 20 pacientes já estão aptos a operar e, nas demais cidades, 72.
"Em Curitiba, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, não existe fila nos três hospitais que fazem bariátrica. Adicionalmente ao protocolo do Ministério da Saúde, Curitiba conta com uma Linha de Cuidado do Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária, com consulta individual e em grupo, em que os pacientes são acompanhados por uma equipe multiprofissional", explica o presidente do Capítulo da SBCBM no Paraná, o cirurgião José Alfredo Sadowski.
Mais investimentos
Devido ao impacto ocasionado pela pandemia, que suspendeu durante aquele período as cirurgias bariátricas, o Governo lançou no último ano um programa chamado Opera Paraná, para destinar recursos públicos, exclusivos do Tesouro do Estado, com o objetivo de reduzir a fila de espera por procedimentos cirúrgicos eletivos, além de fortalecer as unidades hospitalares.
Somente para a primeira fase do programa, serão destinados R$ 150 milhões, que deverão resultar em pelo menos mais 60 mil cirurgias a mais no estado e a iniciativa inclui cirurgias do aparelho digestivo. A segunda fase prevê o mesmo montante de recursos “O Paraná possui uma ampla rede hospitalar que é referenciada e consolidada nas quatro macrorregiões de saúde do estado e com isso temos capacidade de dar mais agilidade e efetividade na realização das cirurgias e procedimentos eletivos, prezando pela qualidade no atendimento e a segurança do paciente”, disse o secretário de Estado da Saúde do Paraná, César Neves.
A Secretaria da Saúde segue o protocolo do Ministério da Saúde, que prevê o acompanhamento por equipe multiprofissional antes da realização de procedimento cirúrgico.
Referência no Brasil
O presidente da SBCBM, cirurgião de Londrina, Dr. Antônio Carlos Valezi, lembra que o Paraná sempre foi uma referência em cirurgias no Brasil.
"Ano após ano, os índices de obesidade vem aumentando em todo o mundo. Nos últimos anos, principalmente após a pandemia, os pacientes têm enfrentado o agravamento de suas doenças enquanto aguardam pelo procedimento. No entanto, o estado possui um fluxo diferenciado”, destaca Valezi. Ele lembra que a obesidade é uma doença crônica (incurável), progressiva e que - por possuir várias causas precisa ser tratada com abordagem multiprofissional, incluindo acompanhamento com médico endocrinologista, nutricionista, psicólogo e incentivo à prática de atividade física.
Estudos comprovam que cerca de 70% das pessoas obesas mórbidas vão morrer antes dos cinquenta anos e aquelas que chegam até a terceira idade possuem uma qualidade de vida ruim.
“É fundamental que o paciente tenha consciência de que a cirurgia bariátrica é uma ferramenta para o tratamento da obesidade mórbida e que o sucesso depende de um comprometimento integral com as mudanças no estilo de vida. Afinal, a obesidade é uma doença crônica e requer um cuidado constante para que seja controlada e para que o paciente tenha uma vida saudável e com qualidade”, ressalta José Sadowski.
Tratamento Clínico
A presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Paraná (SBEM-PR), Dra. Maria Augusta Karas Zella, reforça que a obesidade é considerada uma doença crônica desde 1948 e que hoje o tratamento leva em consideração toda a trajetória e histórico do paciente.
"O que mudou no tratamento clínico não foi só os novos injetáveis e drogas para tratamento da compulsão alimentar. Mudou também o conceito de como acompanhar a obesidade! O peso máximo ao longo da vida deve ser avaliado e a abordagem é voltada para manutenção da perda de peso", explica a endocrinologista.
Segundo a especialista, os pacientes com obesidade apresentam melhora da saúde e controle de doenças associadas ao excesso de peso com reduções de cerca de 5% a 10% do peso máximo. Entretanto, os pacientes demoram, em média, 6 anos entre o início da luta contra a balança até a primeira consulta com um médico especialista.
"A cirurgia bariátrica faz parte do tratamento clínico da obesidade. Ela não é o final da linha. Existem protocolos clínicos de indicação, diminui mortalidade e reverte muitas doenças. O que o paciente precisa ficar atento é que mesmo após a cirurgia, ele vai precisar continuar o acompanhamento médico, nutricional, atividade física e terapia para manutenção do peso perdido e reposição, quando necessário, das vitaminas", diz Maria.
Diabetes
Também abordando o tratamento precoce e clínico, o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná (SBD-PR), Dr. André Vianna, destaca a prevenção do excesso de peso como importante fator para evitar o aumento do número de casos de Diabetes Tipo 2.
"A obesidade é um fator causal para a maior parte dos casos de diabetes tipo 2, que é o mais comum no mundo. Tratar a obesidade consegue prevenir o surgimento de diabetes. Para quem já tem diabetes tipo 2, tratar a obesidade é a prioridade número 1. Porque, no início, é possível reverter e deixar o diabetes em remissão ou melhorar muito os resultados do tratamento com a perda de peso", explica o especialista.
É senso comum entre os especialistas que a obesidade é uma doença complexa e multifatorial que precisa de acompanhamento médico especializado. Para Sadowski, é preciso disponibilizar todos os tratamentos possíveis para esta população, o que inclui a cirurgia bariátrica.
"O paciente deve cuidar com propostas milagrosas ou tratamentos que prometem perda de peso fácil. Não há uma fórmula mágica para o tratamento da obesidade. É preciso cuidar da alimentação, praticar atividade física, ter acompanhamento médico e saber que existe a opção da cirurgia bariátrica, que é a ferramenta mais eficaz para controle da doença em estágios mais severos", reforça Sadowski.
Como é realizada a cirurgia bariátrica
A cirurgia bariátrica é um dos principais tratamentos para a obesidade severa ou mórbida e pode ser realizada por meio de diferentes técnicas cirúrgicas, sendo o bypass gástrico e a gastrectomia vertical as mais utilizadas. Cada uma dessas técnicas tem suas particularidades e indicações específicas, que devem ser avaliadas pelo cirurgião em conjunto com o paciente.
A cirurgia bariátrica não é indicada para todos os casos de obesidade, mas sim para pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 40 kg/m² ou entre 35 e 40 kg/m² com comorbidades associadas, como diabetes, esteatose hepática, hipertensão arterial, apneia do sono, entre outras. Além disso, o paciente precisa passar por uma avaliação pré-operatória completa para avaliar suas condições clínicas e psicológicas para a realização da cirurgia.
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